Wednesday, July 20, 2005

Quando um homem se põe a pensar...






Disseram-me um dia que o homem não pode ter mais do que aquilo que lhe é dado. Que acima da vontade dum homem, existe a vontade de um mundo, gerido por outros homens, homens a quem os sonhos pouco interessam e que continuam sempre a querer mais, mais poder, mais força.
Esses homens são poucos, mas fazem a diferença, num mundo em que ninguém ergue a cabeça para lutar seja pelo que for, por um mundo em que nos amarram às leis de ninguém, às ideias fechadas de quem não sonha, de quem quer controlar o homem, os homens.

Essa voz que me falava vinha de cima, era uma voz cava e funda, autoritária, ouvi-a por muitos anos, acreditei-a.

Certa vez em que seguia esquecida do sonho, nesses caminhos de ninguém, ouvi outra voz. Esta voz dizia-me que olhasse para cima. A medo olhei. Descobri a lua. Era linda. Estava cheia, redonda, iluminava um céu negro e do qual eu não via o fim.
Essa voz disse-me que podia ser minha. Disse-me também que a voz que eu outrora ouvira mentia, que o homem é feito da mesma matéria com que se entrelaçam os sonhos e que não há nenhum homem que seja o único detentor de razão. Disse-me que podia lutar para conseguir a lua, que podia querer mais do que aquilo que me era dado, que me era imposto, eu podia ser mais do que aquilo que de mim faziam, eu podia ser livre.
Essa voz não vinha de cima.
Essa voz não vinha de baixo.
Essa voz vinha dum lugar distante, dum lugar em que todos somos iguais, dum lugar em que os sonhos vivem submersos mas têm espaço para viver. Essa voz era igual à minha, mas era livre porque sonhava, era livre porque me ensinava coisas novas, me abria mundos e ideias, era livre porque acreditava além do que aquilo que lhe era dado.
Então compreendi, que todas as noites a lua estava no céu, que eu podia sempre estender a mão, não a alcançar, mas que era de meu direito quere-la, desejá-la e fazê-la minha, nem que fosse no instante em que estendia o braço e tentava apanhá-la.
A lua nem sempre se via, havia noites em que desaparecia, outros em que crescia, noutros diminuia, noutros ainda aparecia cheia a lembrar-me do sonho, mas eu sabia-a sempre lá a alimentar-me... o sonho.
O dia nascia, eu não tinha conseguido fazer a lua minha, mas eu sabia, que outra noite havia de vir, que a cada dia que passava a luta era maior, e derepente deixei de ouvir a voz que vinha de cima, deixei de fechar os olhos quando o sol brilhava, esperava a noite, a lua, outro dia, uma nova Utopia.






"Livre não sou,
que nem a própria vida
Mo consente
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou,
mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!"

Miguel Torga



Miana.

1 Comments:

Blogger Utopy said...

Achei a imagem linda e as tuas palavras...
É tão verdade o que dizes.
Vivemos num mundo de fortes e fracos. Fortes com todo o seu poder que nos tentam impingir ideologias, caminhos, decisões...trilhos já traçados para percorrermos a vida. E perante eles sentimo-nos impotentes...por eles perdemos vontade de caminhar sozinhos, de tomar decisões, de dar o passo em frente. É a tal voz austera que nos enfraquecer e nos faz vacilar perante receios e medos, por entre os dias maus e cinzentos que temos.é aquela voz forte que nos oprime...deixando que o silêncio nos invada.
Mas por outro lado sabemos que não pode ser assim. O homem é livre e o seu destino é libertár-se."Livre não sou,
mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino."
Não nos devemos prender por ninguém. Devemos sim, lutar por tudo aquilo em que acreditamos...desde ideologias até à nossa mais profundo utopia e no fundo não vê-la assim, mas como algo que poderá ser um dia realidade. Devemos acreditar que conseguimos dar um passo em frente, esforçár-nos para termos tudo o que é nosso por direito e continuar a sonhar. Sonhar e acreditar numa realidade diferente...onde o sonho está presente...onde o futuro é passível de se concretizar diferente do que é agora. Devemos acreditar que um dia tudo poderá melhorar. Não sei se deixarão de existir diferenças, fortes fracos, ricos pobres, bons maus, mas isso que importa? Cada um é ou deverá ser livre de ser como é, lutar por tudo aquilo que tem ou poderá ter e sentir-se orgulhoso pelo acto consumido, pelo feito constatado. Tudo isto seria bem possível com mais união...com um mundo diferente que eu um dia gostaria de ver. O tal outro dia...utopia! Devemos de ouvir aquela voz que vem cá de dentro...que nos faz olhar para cima e faz-nos repetir vezes sem conta...O mundo é nosso...a lua pode ser minha...aquela estrela pode ser o meu porto de abrigo ou meu lugar encantado...é aquela voz que nos faz gritar aos setes ventos tudo o que vai cá dentro. Amor, ódio, alegria, tristeza, e tudo mais que cada alma poderá guardar. Sem medos nem entraves...apenas algo que nos vai abrilhantando a vida...cada dia em constante utopia.
Acreditar que Querer é Poder...Lutar e Vencer!

E eu vou estar aqui para te ajudar sempre. Para te aconselhar nos teus passos ao longo da vida...para te acalmar perante a frieza e austeridade de uma voz superior e para juntas acreditarmos na nossa voz interior e lutarmos por tudo e por nada e acreditarmos que o Universo um dia será o nosso pequeno mundo...guardador de segredos e pensamentos que um dia se espalharam com o vento.

Bejus gds
Utopia

4:25 PM PDT

 

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