Tuesday, February 07, 2006

Escrevo-te...


Escrevo-te…
A ti que me ouves, que me olhas, que me sentes, que me lês.
Escrevo-te com o poder da liberdade.
Sem descriminação.
Escrevo-te sem palavras difíceis.

Sem tópicos, items, etecetras.
Sem lógica ou qualquer razão.
Ou mesmo sentido algum.
Sem pensamentos nas entrelinhas.
Apenas porque preciso.
Para afastar as sombras que me rodeiam, que me roubam aos poucos a luz.
Saída fácil.
Ideia estúpida.
Um subterfúgio à realidade.
Escrevo-te para espairecer.
Para esquecer tudo o que não quero.
Para tentar apagar, em vão, tudo o que me percorre.
Talvez por ser isto uma certeza.
Não mais uma ilusão.
Ninguém apagará estas pequenas linhas.
Porém frágeis. Mas um porto para ti.
Escrevo-te por querer entender.
Ou por querer que me entendas.
Ou só porque sim.
Porque nada mais me ocorre para trazer de novo a luz a um caminho empoeirado.
Apagado talvez.
Cerrado, em obras. Intransmissível.
Mais uma barreira.
Apenas ultrapassada em sonhos.
Escrevo-te para a esquecer.
Ou numa tentativa inútil de a ultrapassar.
Escrevo-te sem censura.
Sem palavras cortadas.
Sem qualquer risco.
Sem quaisquer jogos mentais.
Escrevo-te num pedido de socorro.
De ajuda.
Escrevo-te para me libertar deste peso.
De todas estas palavras que sufocam.
Escrevo-te numa tentativa ilusória da busca de um caminho.
Numa forma de apagar sentimentos que não querem ser sentidos.
Escrevo-te para que as palavras saiam de mim.
Transparecem num outro lugar, que não eu.
Escrevo-te para ti, para todos, para um mundo encoberto, para uma realidade desconhecida.
Para que tudo o que sinto passe a transparecer num papel.
Não em mim.
Não nos meus sorrisos focados ou nas lágrimas caídas.
Por culpa de algo que não consigo proferir.
Está tatuado tão profundamente que não sai.
Independentemente de todas estas palavras escritas.
Esta fica.
Escrevo-te…mas esta última de significado absoluto, não a consigo transmitir, de forma a conseguir oprimi-la.
Apagá-la de mim.