Wednesday, April 26, 2006

E porque há textos que nos dizem tanto...


"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la.Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível.
(...)
Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. "
Mas eu aceito...
"Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?"
Eu aceito...
"Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto."
Eu bem o sei...
"O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. (...) O amor não se percebe. Não é para perceber.
O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficarmagoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Elogio ao Amor - Miguel Esteves Cardoso (Expresso)

Eu arrisquei...
Caí...
Levantei-me...para continuar o mesmo caminho...
Mas não consigo deixar de acreditar...

Chamam-me louca...
Talvez o seja...
Mas só o sou por acreditar...
E por, também, acreditar neste elogio...

Tuesday, April 25, 2006

Liberdade...


Não
podia
deixar
passar
este
dia
em
branco...




"Trago sedenta esta sede de tudo saber
De tudo dizer
Trago comigo
Esta raiva surda
De que tudo esta por fazer
Agarro nas minhas palavras
Agito-as ao vento
Deixando o meu pensamento
Vaguear ao sabor do tempo
e canto

Espero
Não te conheço
E é por ti que espero
Espero
Não te conheço
E eis que te quero

Penso em ti
Que continuas a sonhar enganado
Penso em ti
Que continuas a dormir acordado
Busco no suor
Da nossa dor
Aquilo que nos querem tirar
A nossa verdade que é a Liberdade
E canto

Espero
Não te conheço
E é por ti que espero
Espero
Não te conheço
E eis que te quero"

(Vitor Rosa)

Monday, April 17, 2006

Esperança


A esperança alimentada do nada, mas suportando tudo, não se desvaneceu.
Vai, apenas, escurecendo o ínfimo de um ser. Tornando-o frio…cada vez mais frio.
Alimenta pequenas partes, dos dias, das noites, que aos poucos passam…em branco.
Riem-se de uma loucura lúcida que alimenta pedaços teus.
Riem-se de uma vontade tamanha de ver o amanhecer.
Da vontade que carrega os dias esperançosos.
Esta coisa estúpida que teima em não desaparecer.
Nem o vento, nem o tempo a fazem cair, ruir, despedaçar-se.
Uma luta entre ódio e amor é iniciada todos os dias. Contigo, só contigo, dentro de ti.
Uma esperança que teima em entristecer os dias. Uma esperança que os alimenta. Uma esperança vã. Branca como os dias, todos os dias.
O frio vai, no entanto, tornando-se insuportável. Não existem as palavras certas para o afastar. Só silêncio, nada mais que isso. E frio…tanto frio…
Gélida, afastas os medos. Fria, afastas os sonhos.
Menos um que se mantêm imponente. Firme perante todos os outros. Mas que aos poucos te sufoca. Te deixa sem saída.
Imaginas o cenário? Quatro paredes negras do tempo que passou. Uma luz que enfraquece. O nada, ninguém. O frio, vazio.
Mantêm-te viva, é certo, mas despedaçando momentos, escurecendo os dias.
Lá dentro está também a estúpida esperança.
Faltaram as palavras não ditas, no meio de tantas outras que deveriam ter permanecido no silêncio desse quarto enegrecido pelo tempo, de luz já baça…gasta para encontrar, talvez uma saída.
Esperança que levou a tantas lágrimas…a tantos sorrisos…a tanta coisa que no fundo nunca levou a nada…nunca levará…